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Seminário Fortaleza 290 Anos promove grandes discussões sobre a cidade e seus desafios

Data da publicação: 19 de abril de 2016 Categoria: Sem categoria

O Lepec realizou nos dias 12 e 13 de abril últimos o Seminário Fortaleza 290 Anos: Estudos e Perspectivas, que trouxe intensas discussões sobre os desafios atuais da cidade, ao mesmo tempo em que abordou-se questões gerais sobre a urbanicidade e os dilemas das metrópoles contemporâneas.

Prof. José Borzacchiello da Silva

Prof. José Borzacchiello da Silva

O seminário esteve alinhado com o “aniversário” da Capital do Ceará, que foi no dia 13, e ocorreu no Auditório Luiz de Gonzaga, no Departamento de Ciências Sociais, no Centro de Humanidades, Área III, da UFC.

O Seminário iniciou-se às 9h do dia 12 de abril com uma mesa de abertura em que estiveram presentes: profa. Vládia Borges, diretora do Centro de Humanidades, profa. Celina Ramalho, chefe do Departamento de Ciências Sociais, profa. Glória Diógenes, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e profa. Irlys Barreira, coordenadora do Lepec. A mesa ressaltou a importância do seminário e a relevância de discutir as grandes transformações pelas quais Fortaleza atravessou nas décadas recentes. Em seguida, a programação prosseguiu às 10h, com a Palestra de Abertura: Fortaleza: novas e velhas centralidades, ministrada pelo convidado prof. José Borzacchiello da Silva, do Departamento de Geografia da UFC. Borzaccchiello ressaltou a maneira como a cidade desenvolveu sua condição multicêntrica atual e os impactos geográficos e sociais do deslocamento das centralidades do antigo Centro para diversos outros núcleos, como os bairros da Aldeota, Montese, Messejana e os corredores ao redor de avenidas, como a Av. Bezerra de Menezes e a Av. Washington Soares.

Mesa Perspectivas da Cidade

Mesa Perspectivas da Cidade

Mesa Usos da Cidade

Mesa Usos da Cidade

A programação foi retomada às 14h com a mesa redonda Fortaleza: Perspectivas da Cidade, mediada pela profa. Danyelle Nilin Gonçalves, pesquisadora do Lepec, e tendo como debatedoras a profa. Irlys Barreira, coordenadora do Lepec, e a profa. Solange Schramm, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFC. Solange Schramm destacou os aspectos arquitetônicos da cidade e o modo como são usados e manipulados na contemporaneidade, enquanto Irlys Barreira ressaltou a iniciativa da Prefeitura Municipal chamada Fortaleza 2040, uma tentativa de planejamento estratégico. O Lepec atuou como consultor do processo e fez uma pesquisa sobre o mesmo, especialmente o modo como o associativismo está distribuído e organizado pela malha urbana.

Depois. às 16h, ocorreu a mesa redonda Usos da Cidade, mediada pelo prof. Irapuan Peixoto, pesquisador do Lepec, e tendo como debatedores: Maria Aparecida da Silva, assistente social e doutoranda em Sociologia na UFC; Mário Ribeiro, sociólogo e técnico da SECULTFOR (Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza); e Tiago Araújo, sociólogo e mestrando em Sociologia pela UFC. O objetivo da mesa era discutir o modo como a questão da cidade influência vários processos sociais distintos, especialmente de sociabilidade e de patrimônio cultural.

Mesa Expansão da Cidade

Mesa Expansão da Cidade

Mario Ribeiro refletiu sobre o patrimônio cultural e fez uma reflexão sobre como os processos de tombamento são conflitivos, especialmente entre entes privados e o Estado, assim como os interesses que se revelam nesse tipo de ação. Tiago Araújo apresentou sua pesquisa sobre a Praça Portugal, espaço localizado no bairro Aldeota e que vivenciou dois fenômenos muito interessantes nos últimos anos: ser palco privilegiado de sociabilidade de uma série de agrupamentos urbanos, como roqueiros, emos, otakus, nerds e a comunidade LGBT, ao mesmo tempo em que promoviam um tipo de ocupação “invisível”, já que a cidade simplesmente desconhecia e/ou ignorava este uso; e o processo de possível destruição da praça motivada pela decisão da Prefeitura Municipal de Fortaleza em substituir o espaço por um cruzamento, já que está na confluência de duas movimentadas avenidas, sendo, portanto, cada vez mais ocupada por movimentos de cunho político, que usam o espaço para manifestações. Aparecida da Silva apresentou sua pesquisa sobre a Praça da Cruz Grande, também conhecida como Praça da Juventude, no bairro Serrinha, na periferia de Fortaleza. Demonstrou como a praça teve vários tipos de ocupação ao longo do tempo (de praça de guerra entre gangues até palco da articulação e encontro dos movimentos organizados do bairro, que autogestão o espaço), dando destaque à reflexão sobre os atores que usam a praça hoje para fins culturais e políticos e como tal processo enseja discussões sobre as ações da sociedade civil e do Estado em relação às demandas comunitárias.

Mesa Novas Dinâmicas da Educação na Cidade

Mesa Novas Dinâmicas da Educação na Cidade

A programação do Seminário foi retomada no dia 13 de abril, dia do aniversário oficial de Fortaleza, começando às 14h, com a mesa redonda Expansão da Cidade: Dinâmica Urbana, Infraestrutura e Mobilidade, que contou com mediação de Giovanna Santiago Lima, tendo como debatedores Clélia Lustosa da Costa, profa. do Departamento de Geografia da UFC e membro do Observatório das Metrópoles; e do prof. Irapuan Peixoto, pesquisador do Lepec. Clélia Costa apresentou os dados de uma série de pesquisas realizadas no âmbito do Observatório das Metrópoles quanto à Fortaleza, com destaque ao modo como a expansão para o leste (a partir do núcleo central original) moldou as transformações da cidade, enquanto as populações pobres eram “lançadas” para o oeste. Irapuan Peixoto dissertou sobre o problema da mobilidade urbana em Fortaleza, destacando o aumento crônico da frota de veículos da Capital e a ineficaz política de incremento de infraestrutura consequente. Também frisou a análise crítica das políticas públicas (especialmente no âmbito municipal) que foram ativadas para resolver os problemas, a partir do recorte de três ações: os binários viários, o BRT (Bus Rapid Transit, corredores expressos de ônibus) e as ciclofaixas.

Às 16h teve início a mesa redonda Novas Dinâmicas da Educação na Cidade, na qual foram destacadas as pesquisas no campo da educação, que é a nova linha de ação do Lepec. A mesa foi mediada pelo prof. Irapuan Peixoto, tendo como debatedores a profa. Danyelle Nilin Gonçalves; Giovanna Santiago Lopes, estudante de Ciências Sociais, pesquisadora-bolsista do Lepec; Paula Barros Lopes, estudante de Ciências Sociais, pesquisadora-bolsista do Lepec; e Germana Lopes Lima, estudante de Ciências Sociais, pesquisadora-bolsista do Lepec. Danyelle Nilin Gonçalves, Giovanna Lima e Paula Lopes apresentaram a pesquisa Vocês vão ter que nos engolir: Discursos e conflitos em torno das cotas na Universidade Federal do Ceará, fazendo reflexões sobre as políticas de cotas na UFC e as consequências disso para a sociabilidade dos alunos e do cotidiano dos cursos de graduação. A pesquisa ainda está no início, mas já tem alguns dados bem interessantes sobre o tema, a partir da realização de enquetes e questionários. Germana Lima apresentou a pesquisa Agrupamentos Identitários e Associações Juvenis: Sociabilidades, Conflitos e Vigilância na Escola, que analisa a dinâmica de sociabilidade dos jovens estudantes do Ensino Médio, com foco em duas escolas públicas, localizadas nos bairros Conjunto Ceará e Cidade 2000. A pesquisa percebe como funcionam as agremiações que os jovens constroem em torno de signos de identificação e que geram alianças e conflitos no interior das instituições escolares.

Mesa Turismo e Nativo

Mesa Turismo e Nativo

Mesa Remoção e Luta Política

Mesa Remoção e Luta Política

Às 18h teve início a mesa redonda Turismo e Nativo: Sociabilidades Conflitivas, mediada pelo prof. Irapuan Peixoto, tendo como debatedores Willams Ribeiro Lopes, doutorando em Sociologia pela UFC; e Rafael Cavalcante de Lima, mestrando em Sociologia da UFC. Willams Lopes apresentou sua pesquisa sobre os efeitos do turismo no Cumbuco, praia localizada no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, na qual se observa a influência da visitação constante de turistas do Brasil e do exterior num dos principais destinos de lazer do Ceará. A pesquisa foca especialmente no conflito entre os nativos da praia, que foram forçados a vender suas terras para dar lugar aos equipamentos turísticos e culturais, ao mesmo tempo em que esse turismo de lazer é também impactado por outro fenômeno: a proximidade com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, que atrai grande quantidade de trabalhadores qualificados estrangeiros. Rafael de Lima apresentou sua pesquisa intitulada Vidas Volantes, sobre a dinâmica entre os nativos e os “forasteiros” na praia de Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara, no litoral oeste do Ceará. A pesquisa analisa o modo como os nativos tiveram suas vidas transformadas nas últimas décadas, saindo de uma vida pautada pela agricultura e pesca para o envolvimento nos serviços que giram em torno do turismo, inclusive, de âmbito internacional. Ao mesmo tempo, percebe a chegada de forasteiros autointitulados “malucos de estrada”, sujeitos de ideologia hippie que viajam feito nômades pelo país e se fixam em territórios por períodos determinados de tempo, vivendo da venda de artesanato aos turistas. Lima nota como a comunidade de Caiçara de Baixo, vizinha à praia de Jeri, abrigou três levas, três ondas migratórias, desses visitantes, criando novos laços de sociabilidade com os nativos, que geraram ao mesmo tempo movimentos de associação (projetos associativos de coleta de lixo e de afirmação da identidade quilombola) e de conflitos (disputas pelas terras, vendas fraudulentas etc.).

Às 19h deu-se início da mesa redonda Remoção e Luta política, para analisar os volumosos processos de remoção de moradores em prol de obras públicas nos últimos anos em Fortaleza. A mesa foi mediada pelo prof. Irapuan Peixoto, tendo como debatedores a profa. Linda Gondim, coordenadora do LEC (Laboratório de Estudos da Cidade), do Departamento de Ciências Sociais da UFC; Marília Passos, advogada popular e doutoranda em Sociologia na UFC; e Valéria Pinheiro, pesquisadora do LEHAB (Laboratório de Estudos da Habitação) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFC. Linda Gondim fez um levantamento histórico e sociológico das remoções em Fortaleza, focando especialmente nas últimas décadas, quando aumentam os processos conflitos entre o Estado e as populações alvos de remoções. Valéria Pinheiro deu destaque ao processo de remoção da Comunidade do Trilho e adjacências, fruto das obras da Copa do Mundo de 2014 na cidade e da realocação das famílias no Conjunto Cidade Jardim, além dos conflitos comunitários que daí decorreram. Marília Passos descreveu a violenta desocupação da comunidade do Alto da Paz e os excessos do Estado, além de dar instruções de como proceder legalmente nesses casos.

Às 21h o seminário foi encerrado pelo prof. Irapuan Peixoto, agradecendo a todos os palestrantes, participantes e, especialmente, aos organizadores do evento. Todas as mesas foram animadas por intensos debates e a participação do público presente foi louvável, com questionamentos muito interessantes. O Seminário Fortaleza 290 Anos pode promover um diálogo do Lepec com outros pesquisadores, especialistas e instituições, ao mesmo tempo em que anima a todos por ver o quão interessante são as pesquisas que estão em andamento. O evento inteiro foi filmado e, em breve, o conteúdo dos vídeos estará disponível na íntegra na página do Lepec no YouTube, bem como também serão disponibilizados os links aqui mesmo no site.

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